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Crescer

30 mar

 

Porque não viver nossos sonhos?

“Quando a gente cresce entende que a vida não é um mar de rosas”, “Quando a gente cresce entende que tem que trabalhar e se sustentar”, “quando a gente cresce…”
Todo mundo certamente já ouviu essas frases ou seus correlatos, parecem naturais, intuitivas, escritas por quem já “cresceu” e sabe do que está falando, certo? Óbvio, não? Será?

Quando somos crianças temos sonhos, vemos o mundo de uma forma inocente, ingênua e até mesmo bastante limitada. Achamos que as coisas são simples, que se resolvem facilmente. Divertimos-nos com pouco, apenas porque é divertido se divertir. Somos esponjas para novos conhecimentos e pra descobrir mais coisas sobre esse mundo em que fomos lançados. Absorvemos conhecimento e compreendemos novas coisas numa velocidade sem precedentes. Exploramos o mundo físico e o emocional, testamos e descobrimos os limites e capacidades normais de nossos próprios corpos e começamos a lidar com nossa mente de maneira cada vez mais complexa.

Quando nos deparamos com algo do mundo “adulto” que não conhecemos, por vezes ouvimos a clássica frase: “quando você crescer vai entender”. Em geral ouvimos isso quando se tratam de questões financeiras, amorosas, conjugais ou políticas, pois, segundo nossos pais, aquilo tudo é muito confuso e distante de uma criança…

Depois dessa fase vem a adolescência e em seguida a “maturidade”, a tão falada “juventude”, que segundo muitos é o período mais intenso e critico de nossa história pessoal. Por quê? Já não somos mais crianças e ainda não somos “adultos”. Já compreendemos (ao menos empiricamente) nosso mundo físico imediato e estamos passando por toda a ebulição emocional e social de ser jovem. Começamos a descobrir e a explorar aquelas questões que iríamos “entender” quando crescêssemos. É nessa fase que nos revoltamos com todas essas coisas, é aí que nos chocamos com a “dura realidade”, viramos rebeldes, criticamos o mundo e a nós mesmos.

De fato é nesse momento psicológico, nesse “pulo do gato” que mesmo sem saber nós definimos tudo o que seremos dali pra frente. Especialmente porque cada vez menos nossos pais terão influencia no nosso destino. É nessa época que nos escravizamos, nos alienamos, que nos frustramos, que continuamos rebeldes ou nos resignamos com cada assunto da vida. Nessa fase enfrentamos aquelas questões todas.

Enfrentamos a sociedade, mais do que isso, colidimos com ela. Temos que nos sustentar, ganhar dinheiro, gastar. Temos que ter uma opinião, um comportamento sério, uma religião, um emprego, carreira, temos que ter… A sociedade pede e força para que nos envolvamos com ela, não importa como, revoltado ou resignado, ela vai tentar te envolver.

Alguns se revoltam, partem para os ‘points’ da juventude, festas, farra, drogas quem sabe, ou ao menos álcool, cigarro… Religião que acolhe quem tem dúvida, banco que acolhe quem tem dívida, ciência pra quem duvida e projetos sociais para quem divide (esse último seria a mais nobre forma de se rebelar).

Há os que não se revoltam e se resignam, os que desistem de se revoltar ou ainda os que se vendem para algo que antes os fazia protestar. Esses se envolvem por vontade própria na sociedade, buscando com isso poder, conforto, dinheiro ou até mesmo uma aceitação no mundo.

Não importa como, esses assuntos que nossos pais diziam que entenderíamos quando “crescêssemos” tentam nos envolver e criar nosso mundo, tentam apagar quase que por inteiro a lembrança dos sonhos e da forma simples da criança de ver o mundo. A mente aberta e a diversão gostosa e suave, a sensibilidade e a atenção a natureza e as coisas simples da vida ficam cada vez mais num baú empoeirado, no sótão do nosso inconsciente, como sonhos de criança e uma visão “infantil” do mundo.

As diversões agora têm de provocar fortes sensações para nos mover, musica intensa, luzes rodopiantes, sabores extremos. Qualquer coisa que force nossos sentidos (um sabor quimicamente e monstruosamente gorduroso, um filme incrivelmente aterrorizante ou cheio de ação) nos atrai e nos faz achar que “isso é diversão”.

As batalhas não são mais para “vencer o sistema” ou para “mostrar o certo”; passam a ser batalhas para sobreviver dentro da sociedade, batalhas por dinheiro, por status, por ser o melhor do sistema…

Aquela facilidade para aprender, aquela forma inocente de ver o mundo se corrompe, se perde. Dizem-nos: “Não há nada mais pra ver, já conhecemos o mundo e é este, as pessoas são assim, aceite, o mundo é assim, aceite! O que você sonha e pensa não é real, só este mundo que vemos (e destruímos) é real.” Então, acreditamos nisso, deixamos nosso verdadeiro crescimento de lado porque achamos que “já crescemos”, que “já sabemos”, que “já vimos aquilo antes”… Fim da história… A partir desse ponto o destino de quem está assim já foi traçado, vai viver, crescer e morrer como as pessoas do mundo que escolheu acreditar e seguir, perde-se e deixa seu crescimento preso nas teias que o envolveram em sua juventude… se nada mais for feito em seu interior, o destino se encarregará de seguir seu rumo…

Poucos, no entanto, vão alem do que diz o mundo, vão além do óbvio que diz que o mundo é assim e pronto. Estes, são vistos como ‘visionários’ ou ‘loucos’, vão além do que a sociedade ‘disse’ que era o certo e começam a explorar mais o mundo, interior e exterior. Começam a olhar com mais atenção, a notar as falhas e mascaras daquele mundo doente, começam então a recuperar sua capacidade de ver um mundo novo e de ter um ponto de vista diferente sobre aquilo que todo mundo acreditava ser daquela forma. Começam a aprender mais rápido, a recuperar a simplicidade de ver o mundo, mesmo já tendo passado (e deixado para trás) aquela complicação excessiva do mundo ‘adulto’. Voltam a ser crianças na alma, na simplicidade e na inocência de não conhecer bem o mundo e explorá-lo melhor. Não há mais a infantilidade da criança, e mesmo sendo crianças, passam a ser pessoas crescidas, ou ainda ‘pessoas crescendo’…

Essas pessoas que voltaram a esse estado de crescimento (ou que o mantiveram) são normalmente vistas com “infantis” pelos auto-proclamados ‘adultos’ da sociedade, parece “óbvio” que são uns sonhadores e loucos essas figuras inovadoras… Porém infantilidade é ‘não ter vontade própria’. Então, infantil mesmo é ficar por horas diante de um programa boçalizante na televisão, de um jornal ou seriado que nada têm a acrescentar no crescimento interior de alguém. Isso sim é falta de vontade própria!

Seguir as tendências da moda, de religiões, de movimentos sociais ou de comportamento sociais sem que isso reflita algo de positivo em seu interior ou que isso lhe traga um crescimento maior, só faz das pessoas mais uma ‘cabeça de gado’ nos rebanhos dessa sociedade. Gado, manada que será, um dia, abatida para alimentar a estrutura que a criou e pastoreou (será que essas “cabeças de gado” já refletiram que um dia serão “abatidas” ou o que isso significa na prática????).

Em resumo, a quem interessar manter sua vida interior ativa, divertir-se e sonhar como criança, basta olhar o mundo como algo ainda realmente desconhecido. Mesmo que a arrogância cientifica moderna insista que “boa parte do mundo já foi explorada” ou que sua religião/partido político/visão social diga ser possuidora da verdade absoluta do universo, pense… Pense com você, em seu interior, descubra que mesmo fisicamente o mundo é 99,99999999999…% inexplorado. Infinitas dimensões e possibilidades esperam àqueles que tiverem a ousadia de ir buscá-los e isto não é uma hipérbole.

Atreva-se a descobrir novas facetas desse mundo e a novos mundos como uma criança faz enquanto cresce. Se você está lendo isso, certamente não é infantil (isto é, possui alguma vontade própria), então use-a e veja além do que parece óbvio, divirta-se com o que é divertido, não com o que é intenso e forte e que ‘dizem’ que é divertido. Entenda o mundo financeiro, trabalhe para que ele não te envolva e te escravize a ganhar dinheiro pra sobreviver, a vantagem de ser uma criança crescida é que você entende as coisas da sociedade e trabalha pra que elas não te aprisionem, seja o dinheiro, religiões ou modo de vida.

Seja você, brinque mais, e quando ver uma borboleta pousar inadvertidamente na cabeça de alguém… ria! Aprecie viver!

Seja livre, voe!